Não gosto de arrumações ...
Não gosto de ordenar o meu universo caótico ... mas, ao mesmo tempo, há momentos em que se torna urgente dedicar uma tarde para tirar tudo de dentro dos armários e voltar a pôr sob a lógica da combinação, do alinhamento e da perfeição.
Não gosto mesmo de arrumações ...
Não por preguiça, mas por ter de (re)mexer no que às vezes parece estar esquecido. Perco-me nas lembranças e na vontade de retomar aquele momento que aquele objecto me trouxe [como a Raquel diria: memória através dos sentidos!]
Por tão bem conhecer a sensação, arrumações é um ritual que adio ... procrastino por saber o que me espera: saudades!
Hoje mudei a minha colecção de livros do Fernando Pessoa, trouxe-a para mais perto de mim. Agora, daqui de onde escrevo, consigo vê-los ordenados por datas e por "autor" [o Pessoa, o Reis, o Caeiro e afins!], mas daqui a uns dias já sei que a ordem vai ser outra. Depois foram os dvd's, os cd's, cadernos escritos e folhas de papel, agora reagrupadas e não dispersas. E no meio destes movimentos lá se encontram coisas no fundo das gavetas: bilhetes de cinema, canetas que já não escrevem, um poema escrito à mão, recortes de jornais, um brinco perdido, umas luvas que já não uso [graças ao bom gosto da Leninha!], marcadores fluorescentes, entre outras coisas quase esquecidas mas enriquecidas pelas saudades.
Guardando, acumulando, exagerando, procrastinando ...
Vou me reencontrando no meio desta anarquia organizada.